quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Visão de formiguinha

No nosso primeiro mês aqui ficamos hospedados no Ibis. E do lado tem um restaurante italiano, que nós fomos uma única vez naquele mês. O restaurante era mais caro do que as tascas que a gente normalmente almoçava e jantava, portanto era considerado luxo! Não sabíamos exatamente quanto o nosso salário valia e estávamos realmente economizando. Mas naquela época eu vivia desesperada atrás de massa em cardápio de tasca. O que era missão impossível. Portanto, naquela noite que fomos lá eu estava no céu comendo meu ravioli . Acho até que foi a noite mais feliz daquele mês. E a partir daquele dia, considerei o tal restaurante "O Italiano" de Lisboa.
Nunca mais tinha voltado lá, até segunda passada que decidimos ir jantar. Senti até um aperto. Foi inevitável não lembrar do começo esquisito aqui, morando no hotel numa área de Lisboa nada charmosa, nós dois e nossas 4 malas enfiados num quartinho e toda aquela ansiedade de trabalho novo, vida nova, saudade de casa e frio.
Mas quando chegou o prato, toda a nostalgia desapareceu. Levei um choque ao dar a primeira garfada: percebi que o molho de tomate era molho pronto!!! Com gosto de molho de latinha! Terrível!!
Foi uma decepção, óbvio, e uma alegria. Alegria porque se eu não tivesse começado cozinhar, e fazer meus molhos de tomate em casa, talvez nunca percebesse a diferença. Como não percebi da primeira vez. E alegria principalmente em perceber que o molho não era o mesmo, mas nós também não. Não éramos nem de longe o mesmo casal sentado lá. Não estávamos mais assustados, nem ansiosos e tudo parecia tão mais sereno do que da primeira vez, mesmo eu não me sentindo no céu a cada garfada.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Liberdade?

Não, eu não comprei um celular, ou telemóvel como eles dizem aqui. Sim, eu era aquela pessoa que quando acabava a bateria do meu celular no meio do dia, acabava também o meu humor. Mas nenhuma historia ilustra melhor a dependência que podemos criar deste aparelho do que a de uma amiga minha: a Lucélia. Estávamos eu, a Lu e Alice passando o reveillon numa praia. A Lu não largava o celular 1 minuto sequer. Tanto que quando deu meia-noite lá foi ela pular as 7 ondas com o dito cujo na mão. Só que lá pela 4ª onda, ele escapou das mãos dela e foi direto para as mãos de Iemanjá. A Lu ficou desesperada, resgatou ele do meio das ondas, mas lógico que já era.
Enfim, eu também já fui assim. Mas aí que aqui, enrolei, enrolei e não comprei um celular. E já acho que nem preciso mais. Mas o difícil não é me acostumar sem celular, são os outros se acostumarem comigo sem. Hoje teve uma reunião geral aqui na agência. E o meu diretor ilustrando um exemplo sobre como não vivemos mais sem tecnologia, perguntou: Alguém aqui não tem telemóvel? Eu nem levantei a mão, não precisei. Um monte de gente me apontou e disse: ela. Ele disse: ela! Tipo, olha que pessoa mais estranha!
Depois da reunião, a tia da cozinha, um amor, veio até me falar sobre o telemóvel dela, que era baratinho e tal...
Nem sei dizer porque não quero, mas não achei também nenhum motivo para querer. Acabei percebendo que simplesmente dá pra viver sem. Me livrei do vício e diminuí a chance de ouvir “tô” ao invés de alô.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Clube das lulus

Lisboa as vezes lembra Paris. Principalmente se tratando de garçom de tasquinha, os restaurantes típicos portugueses. Eles são sempre donos de uma personalidade fortíssima, um eufemismo para mal educado.
Quando chegamos aqui, ficamos hospedados 1 mês em hotel. E eu e o Rafa almoçamos e jantamos este tempo todo em tascas. A partir daí, criei um certo medo em relação a estes funcionários. Mas isso não quer dizer que eu não frequente estes lugares. Tanto que ontem, eu e a Lu, na decisão de iniciar um clube das lulus quinzenal, fomos numa tasca que a comida é boa, mas claro, os garçons tem personalidade.
E aí que nós duas tomamos um pito por ter estrangalhado um queijo inteiro. Na verdade nós tiramos toda a casca de um queijo couvert, de um jeito tosco, para só comer o miolo. O garçom parou, colocou a mão na cintura, balançou a cabeça e disse num tom mais elevado que o normal: "O que vocês fizeram com o queijo? Estragaram tudo. Agora vão comer". A Lu, num gesto automático, começou raspar mais um pouquinho do queijo que estava grudado na casca que descartamos. Mas meu, fala sério, a gente tomou bronca do garçom!! helloooooo!
Numa situação dessas, você pode escolher 2 caminhos: ser mais grossa que ele ou simplesmente rir de tudo. Nós rimos. A quantidade de sangria ingerida não permitia outra reação. E entre uma sangria e outra, percebemos que atrás daquela personalidade forte existia um coração. E eis que no final do jantar ganhamos flores do mal humorado e um pedaço de torta de chocolate totalmente free.
Antes de fechar as portas da tasca, teve a parte de considerar o garçom e de até tirar fotos abraçadas com ele, mas eu tenho vergonha na cara para não postar estas provas aqui.
O clube das lulus começou como deve ser, com o pé direito, na jaca.

Mudar de estação também tem seu lado bom

Desde que cheguei, este foi o pôr do sol mais lindo.

As flores da nossa casa

...sem contar comigo.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Manifestação bem atrás da minha casa


Será que devo me preocupar?

Fuso-horário

Os teatros começaram distribuir sua programação de temporada 2007-2008. Estamos veiculando uma campanha de volta às aulas.Todos os editoriais de revistas estão falando sobre energia para voltar com pique total depois das férias. Pois é, todo mundo pára no verão e volta agora no gás. Ou seja, parece que o ano virou.
Mas peraí!!! Que pique é esse??? É fim de outubro, algumas vitrines já tem papai noel. O ano tá acabando gente! Os clientes deveriam estar com o restinho da verba anual. Todos deveriam estar horrivelmente ocupados para decidir onde vão passar o ano novo.
Eu aqui sonhando em desacelerar, querendo entrar em ponto morto.
O lado bom é a não competição do calendário. Fui pedir para o meu chefe minhas férias de janeiro (olha como tô em pique de fim de ano) e ele disse: "Ah! Janeiro não vai ter problema, ninguém sai nessa época." Nada de rodízio de galera, nada de descobrir que algum espertão já pegou todos os dias de janeiro há 8 meses atrás.
Quem sabe eu não me adapto ao calendário? E quando voltar em fevereiro, me esforço para desacelerar já em maio e me preparar para as férias daqui. É, acho que acabei de fazer minha primeira resolução para o próximo ano.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Amizade

Nunca pensei tanto sobre amizade. Morar aqui, me faz confrontar muito com isso. Fazer amigos é uma coisa natural. Quando você vê, pronto! Aquela pessoa que você conheceu um dia no trabalho é de repente a sua melhor amiga. E você nem sequer se lembra como foi ficando íntima dela, simplesmente aconteceu.
O estranho de estar aqui é ser tão pontual o início de uma amizade. Afinal como as suas nova amigas são as suas únicas amigas, parece que tudo está debaixo de um holofote. E você percebe claramente o passo a passo da amizade. Que as vezes rola bem e as vezes nem vai pra frente. E dá saudade da falta de cerimônia, da desencanação, da despreocupação em ser educada. Afinal ser amigo não é ser educado, é ser amigo, porra!
Mas isso é pra dizer que ontem eu matei um pouco da saudade disso. Tive praticamente uma festa surpresa on line. Um monte de amigas que eu amo do outro lado, enchendo a cara, cantando parabéns pra mim e eu atônita aqui em Lisboa emocionada em frente ao computador. Querendo falar com todo mundo, perguntar dos rolos, namorados, historias, ver os cabelos novos, tudo....loucura!! Foi lindo, nem sei o que dizer ainda hoje. Obrigada meninaaaaaaaaaaaaaas.

Onde está a Lu?

Foto anual da Leo inspirada na capa dos beatles.

sábado, 20 de outubro de 2007

Agrigento e comida

Quem me conhece sabe que eu nunca cozinhei nada. Mas morar aqui em Lisboa longe da mamãe, ter tempo livre a noite, ter uma casa com forno e fogão e um namorado morando comigo me fez ao menos tentar. E aí eu gostei. Muito. Me vi de repente comprando revistas de culinária e com desejos estranhos como sovar massa para relaxar. Mas tudo isso é para explicar a minha alegria de ter uma aula de culinária de 5 horas no dia do meu aniversário. E ter simplesmente amado!
Em Agrigento ficamos hospedados numa fazenda que produz azeite de oliva extra virgem entre outras coisas. Quando o Rafa soube da aula de culinária e veio me dizer, fui logo me animando. Aliás, ele também se animou. Não para fazer, mas para depois ser minha cobaia.
Resumindo: aprendi fazer ragú, almôndegas com molho agridoce, sfumato, tomates recheados e torta de pistache. Tudo o que fizemos durante a tarde foi servido no jantar na fazenda. E a torta de pistache foi servida com uma velinha em cima ao som de parabéns pra você, quer dizer pra mim. Foi lindo! Um dia de aniversário perfeito, bem italiano: com comida e simpatia.

Nós na Sicilia

Depois de 1 semana na Itália é difícil voltar para qualquer outro lugar no mundo. E a pergunta que fica é por que. Por que os italianos são assim? Por que todos são tão absurdamente simpáticos, por que a comida é tão boa, por que tudo lá é tão lindo?
Estávamos em Licata procurando um restaurante que nem com GPS no carro conseguíamos encontrar. Paramos em frente a um bar com mesinhas do lado de fora. Sentados, estavam 2 homens de uns 40 anos. Perguntamos onde ficava o tal restaurante. Na hora, eles perguntaram se conhecíamos a cidade, quando dissemos não, eles simplesmente se levantaram, entraram num carro do outro lado da rua e disseram: nos siga. O Rafa começou achar que eles eram mafiosos. Iam nos levar num beco e nos apagar. Mas, que nada! Nos deixaram na porta do restaurante, disseram "buona sera" e foram embora.
Um dia antes estávamos numa praia e o Rafa estava tirando uma foto minha. Um casal passou e se ofereceu para tirar a foto. Uma hora depois ainda estávamos com o tal casal, na porta da casa deles, sendo convidados com insistência para comer um risoto al funghi.
E poderia aqui falar horas, do cara da funivia no Monte Etna, do casal da Sardegna no teleférico, do motorista em Catânia.
Eles tem alguma coisa que eu nunca vi em povo nenhum. Eu amo a Itália.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Bumbum

A Flávia, minha amiga, não se conforma quando alguém com mais de 10 anos fala bumbum ao invés de bunda. No caso, eu.
Mas aqui eu ainda acho muito estranho falarem cú (mais popular) e rabo (mais educado) e ser super normal!
A primeira vez que nos deparamos com isso foi na legenda de um filme, onde um treinador gritava pro atleta: Anda, mexe esse cú!
Mais 2 exemplos:
A mulher do meu dupla, no jantar de ontem me passando a seguinte receita: “Faço um frango muito fácil. Metes um caldo Knorr no cú. Uma cebola em cima. Um alho no cú. Uma rodela de limão em cima. Leve ao forno e já está.”
E o jeito mais educado aí na revista...



quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Pré-parabéns


Eu AMO fazer aniversário e sempre fico lembrando todo mundo o tempo todo. Pq nunca faço festa, mas quero muito que as pessoas lembrem!!
E aí que nesse ano vai cair no domingo. Mas por um engano do RH daqui, hj foi passado esse email aí em cima para a agência inteira..então desci do elevador e começaram cantar parabéns pra mim. Recebi abraços!! E não pára de vir gente aqui me dar parabéns!! Avisei que não era o dia, mas ninguém tá ligando muito. Depois que chegam na minha mesa, falam parabéns assim mesmo. Afinal vai cair no fim de semana.
E fora isso, para completar os parabéns adiantado, minha amiga Dé tem me mandado um email desse por dia, pq no dia 14 mesmo a gente não vai se falar.
Bom, tô longe, mas não posso reclamar que ninguém deu bola pro meus 29 aninhos!!!
Aliás só um parênteses: achei meu 1º cabelo branco.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Não chega de saudade


O Rafa já tá matando a saudade de alguma coisa que ele fazia no Brasil. Pegar onda. Agora com o carro, com uma roupa de borracha 3.2 ninguém segura mais a pessoa. E eu fiquei pensando o que da minha antiga rotina eu tenho mais saudade.

Café da manhã na casa da minha mãe (com pão francês em rodelinha na chapa com manteiga)
Café de domingo na vó

Clube da Lulu, nos tempos bons, qdo não era um sacrifício conciliar a agenda de meia dúzia de amigas

Almoço no Ora Pois em dia de semana com as amigas e com vinho branco

Pastel e tapioca da feira de domingo da Vila Nova Conceição

La Tartine
Pizza do Braz

Polpetone do Roperto

Café da manhã no Pain et Chocolate

6 ou mais mulheres bêbadas espremidas no meu antigo apê

Colcci em promoção na hora do almoço

Passeio de vespa

Karaokê da Liberdade, ôpa, teste pra ver se alguém tava distraído..Esse aí sem chance de ter saudade.

Feriado = Óbidos

Óbidos fica à 45 minutos de Lisboa.
É um vilarejo de casas brancas cercado por uma muralha medieval.
Um dos lugares mais bonitos que fomos aqui.
As pessoas tem uma simpatia de cidade do interior. Coisa que se deve valorizar por esses lados.

Detalhes medievais e floridos de Óbidos.


quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Trânsito


As vezes venho trabalhar de bonde. Quando chove ou quando coincide dele passar bem do meu lado quando estou com preguiça. O trajeto de bonde dura menos de 10 minutos. Só que da última vez, fiquei parada uns 15 minutos sem sair do lugar. Porque, claro, bonde não desvia. E tinha um carro parado bem no meio do trilho. O carro estava esperando para entrar numa ruazinha que eu ainda não entendi como funciona, mas é uma ruazinha fechada. Não com uma cancela, mas com uns mini postezinhos que sobem e descem do chão. E para o postezinho descer é preciso pagar...Enfim, algum problema tava acontecendo, porque não liberava pro carro entrar e consequentemente pro bonde passar.
Todos os carros da rua começaram buzinar loucamente, os passageiros do bonde se irritaram. Alguns desceram e passaram pelo carro xingando o motorista. E toda essa bagunça e barulho me lembrou o cruzamento da Cidade Jardim com a Faria Lima que eu passava todos os dias de manhã. Com uma pequena diferença: o sorriso no meu rosto. Pegar um bonde ainda é tão novidade pra mim, que achei até graça de tudo isso.